Na rua das flores
um castelinho encantado se levanta,
das barrancas gotejantes,
por entre campânulas azuis,
montão de maravilhas
e trepadeiras enroscadas
aos arbustos viçosos.
De sua janelinha
ecoam 0S mais diferentes sons,
que se misturam
ao zumbido dos besouros,
das abelhas e das crianças"
que vivem mais
na rua das flores,
do que em suas próprias casas
Também pudera!
Nas escadas de pedra
do castelinho
os anões da Branca de Neve
brincam de pega - pega .. .
e o Pequeno Polegar corre
ao encalço
do gigante fujão.
Para a gente grande,
o castelinho não é mais
do que um sobradinho,
o casarão antigo
de dona Chiquita,
a professora de todo mundo
Para a criançada,
o casarão é um castelo,
um reino de fadas.
A tarde, depois das aulas,
o castelinho se enche de crianças,
que ensaiam os famosos'
Teatrinhos de Perdões.
Pouco a pouco,
meninos e meninas desaparecem,
fugindo de si mesmos,
cedendo lugar às fadas,
reis, rainhas,
príncipes, princesas,
anões, bruxas e magos.
e Rapunzel das tranças de ouro!
Quem passa pela rua das flores
à tardinha, ouvirá por certo
a voz do Pequeno Polegar:
"Vamos passear nos bosques,
ou a da Branca de Neve .
a cantar, tra -lá - lá - lá "
E quem sabe,
até mesmo os miados
do Gato de Botas:
"Estes trigais _
pertencem ao marquês, de Carabás.
Ao deixar o castelínho
retomando a realidade,
a meninada patina alegremente,
sem nunca -ter ouvido falar em patins.
É
que a rua das flores
é uma pista natural,
toda feita de pedra sabão.
Patinando despreocupadas,
as crianças se ligam,
mais aos tombos e trombadas,
do que ao equilíbrio
nas pedras largas e lisas.
o castelinho é povoado
de fadas, dríades
e as grimpas de suas árvores
são esconderijos
de bruxos e gênios.
Na rua das flores,
ponto de encontro
da infância de Perdões,
os velhos sofrem.:
porque as pedras de sabão
ameaçam quem começa a pensar,
onde e como andar.
Andar é bom mesmo
quando se anda sem pensar,
seja ao sabor da lama,
da enxurrada ou da lisura
das pedras de sabão.
Na pista natural
da rua das flores
o perfume agreste se mistura
ao cheiro de assados
da Andrezza,
a quitandeira da cidade.
Ainda agora, o cheiro forte
do alecrim agreste
das vassouras dos fomos de barro, e o odor gostoso
das broas de fubá
biscoito de polvilho,
supitam-nos às narinas,
enchendo-nos a boca d'água.
Contaram-nos agora,
que o sobradínho
de dona Chiquita foi demolido,
mas o castelinho encantado
este não, ele existirá
para todo o sempre,
na alma das gerações
que o conheceram.
Tirá-lo das entranhas r
de nosso ser, quem há de?
,
,.
Quantos poetas, músicos, artistas,
estão espalhados
por todo este mundo de.
Deus,
graças à varinha de condão
de Dona Chiquita, .
que deu à criança perdoense
a oportunidade de viver
seu mundo mítico,
e a alegria de ser
verdadeiramente
criança
Eunice de
Sousa Lima Puhler - Nasceu em Perdões , Professora , Escritora Poetisa , Ensaísta.
Livro :
AS MIL E
UMA RUAS , POR ONDE ANDOU . . . .
MINHA INFÂNCIA
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